quarta-feira, 25 de maio de 2016

UMA JOVEM EM BUSCA DO FUTURO- DUZINHA A GUERREIRA.

UMA JOVEM EM BUSCA DO FUTURO- 
DUZINHA A GUERREIRA.

Duzinha, dezessete anos incompletos,  acorda as cinco  da manhã, toma um banho frio e vai até a cozinha, toma uma xícara de café fraco  de garrafa, feito à noite,  como acompanhamento  um naco de pão untado com margarina, as seis horas já está no ponto de ônibus, as sete  adentra na sua escola publica, das quatro aulas , duas não terão por falta de professores, as doze bate o sino, fim de aula , Duzinha toma o caminho do estágio , sem almoço , chega às catorze horas depois de uma verdadeira viagem até o centro da cidade, toma um café , bota um jaleco e tira da sacola mais um pedaço de pão, no estágio passa a tarde batendo carimbos e arquivando documentos, piadinhas pra qui, anedota pra lá e   as horas vão passando, de proveito Duzinha nada aprende para o seu futuro, as dezoito lá está a moça no concorrido ponto do buzu, depois do quarto ônibus,  de pé , a Duzinha toma o destino de casa, o estomago vazio, as pernas trêmulas, olhos caídos, a cabeça quase a explodir, o filme da vida é repetido pela milésima vez na sua mente pueril.

Dorme de pé, uma mão nos ferros da poltrona ocupada e a outra no corrimão superior da condução, nas curvas se joga sem querer no passageiro que vai sentado ao seu lado, se for um  homem, este  ergue os ombros para encostar nas pernas da sofrida estudante , duas a três horas   chega Duzinha na sua desejada casa, joga a sacola e o caderno sobre a cama , vai até a cozinha e  se possuir mãe,  encontra um bocado de arroz ou uma sobra de macarrão,  um naco de carne ou um ovo a estrelar, uma concha de feijão ou a sobra do cuscuz, de quebra uma xícara de café requentado ou um copo de suco de caixa.

 Duzinha não tem mais cabeça para o estudo, na pequena sala a mãe ligada na novela ou na escuta do pastor, o pai no bar da esquina a tomar a ultima pinga, Duzinha exausta joga uma chuveirada fria na combalida carcaça e cai na cama , vira toda a noite de uma lado para o outro,   o relógio crava  cinco horas da madrugada, começa tudo outra vez, como brinde e recompensa quatrocentos  ou quinhentos reais por mês  do falso estágio, uma recompensa com o único intuito , deixar a Duzinha estagnada  na mesma classe social, com o dinheiro compra ou recarrega o celular, consome dois ou três pães com carne moída e  batata frita , que eles e os empresários do fastfood chamam de refeição.

Duzinha foi pescada pelo governo e vaticinada a continuar sem estudos e sem conhecimentos, a menina foi abduzida ao conformismo , como concorrer a uma Universidade de futuro? como concorrer com a classe média e alta assistidas pelos pais e pelo bom poder aquisitivo , classes comprometidas  pelos estudos e contempladas por um  ensino básico de primeira categoria , que preparam os seus filhos para um futuro melhor.

Insisto , reclamo e diuturnamente esperneio , o país só sairá deste atoleiro e desta lama , quando as milhares e milhares de Duzinhas tiverem um bom ensino fundamental , um bom acolhimento familiar, um bom prato de comida , uma bolsa  para continuar os seus estudos e  uma ajuda para permanecerem em casa dando conta dos afazeres estudantis  sem anedotas e sem piadinhas, sem o consumo e perda de seis  horas do seu precioso tempo , para depois e   somente depois,  estas Duzinhas com uma boa formação básica  decidirem  os seus rumos, um bom e empolgante curso técnico profissionalizante  ou concorrer igualitariamente  com os demais jovens , independe da  classe social, aí sim eu acreditaria neste país. 

Que venham os ENEM(s), os PROUNI(s) e os VESTIBULARES que as nossas DUZINHAS estarão preparadas para a vida e viva as nossas milhares de doutoras nos diversos segmentos da sociedade, aí sim eu me orgulharia do nosso Brasil.

Brasil respeite os seus filhos de baixa renda, eles  farão o seu futuro.

Iderval Reginaldo Tenório

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